sábado, 4 de fevereiro de 2017

uma sociedade que não quer abdicar de nada

"A sociedade atual vive, portanto, enredada numa inextricável teia de paradoxos: promove um desenvolvimento técnico e cientifico acelerado, ciente de que assim gera problemas a um ritmo superior ao da sua própria capacidade para produzir o conhecimento necessário à sua resolução; exige cada vez maior segurança, num cenário que é precisamente marcado pela multiplicação e pela globalização dos riscos; reclama (e recebe) do Estado níveis de intervenção social e de atuação (preventiva e sucessiva) cada vez mais elevados, ignorando a situação de sobrecarga em que essas exigências o colocam, e retribuindo-lhe com desconfiança e insatisfação permanentes. Trata-se, bem entendido, de uma sociedade em que parece não querer abdicar de nada: nem das oportunidades e altos índices de bem-estar proporcionados pelo vertiginoso progresso tecnológico e científico; nem de elevados níveis de segurança para os bens que considera mais precioso e se encontram garantidos por um estatuto jurídico que assenta sobre extensos catálogos de direitos e liberdade. Sobretudo, é uma sociedade confinada ao tempo presente, que vive como se não houvesse futuro ou, pior, transferindo para as gerações vindouras muitos dos custos - ambientais, financeiros ou político - decorrentes das suas próprias opções e dos seus próprio modelos de desenvolvimento."


Jorge Pereira da Silva, Deveres de proteção de direitos fundamentais, Universidade Católica, 2015, p. 12.

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